Com ajuda de um andador, Vitória já anda, vai sozinha ao banheiro, e entre outras conquistas, a garotinha de 10 anos, formou-se esse ano de 2022 no Ensino Fundamental I na EMEF Jardel Biguetti Domeneghi, na cidade de Igarapava (SP). A mãe, Gilda Santos, conta com orgulho que a sua “filha do coração” cada vez mais a impressiona pela garra, determinação e vontade de viver. Um exemplo de superação.
A história de superação…
“Ela já era minha filha desde sempre”, diz Gilda, que tem a guarda provisória de Vitória, menina especial de 10 anos que perdeu a mãe biológica para o câncer e o pai para Covid.
A história que você vai ler parece uma série de coincidências, parece história de filme, mas se você tem fé, essa história, vai fazer você acreditar que tudo é providência. A história é de luta, mas acima de tudo, a história é de superação, através da força do amor.
Tudo começou há 10 anos, quando Gilda descobriu que estava grávida do terceiro filho. Na época ela era casada e já tinha dois filhos. Os médicos recomendaram um aborto porque Gilda corria risco de morrer a qualquer momento, mas ela não aceitou. Estava de 13 semanas e levou a gravidez adiante, mesmo contra as recomendações médicas.
Gilda que casou aos 14 anos, tinha 36 anos na época, e já tinha dois filhos adultos, teve o terceiro filho, o João, com 27 semanas de gestação. Ele nasceu especial e foi desenganado pelos médicos, mas Gilda nunca desistiu deste filho, que hoje tem 10 anos.
Vitória e sua história
Mas e a Vitória? Onde entra nesta história? A Vitória nasceu de tempo normal, 9 meses. Sua mãe, Alessandra morava em Santa Rosa de Viterbo e também estava no HC de Ribeirão Preto enfrentando uma gravidez de risco, quando Gilda, que é de Igarapava deu a luz ao João. As crianças nasceram com diferença de poucos dias. João nasceu dia 02 de março de 2012 e Vitória nasceu dia 15 de março de 2012, ambos com uma luta pela frente, ambos desenganados pela medicina. Alessandra e Gilda se tornaram amigas, se adicionaram no Facebook e trocavam mensagens. Após dois meses internadas, as crianças tiveram alta, coincidentemente ao mesmo tempo. Vitória foi embora do HCRP com a família para Santa Rosa de Viterbo, interior de São Paulo e João foi para sua casa com sua família, em Igarapava, também no estado de São Paulo.
Vida que segue, superação
E a vida seguiu para essas mães, seus filhos, suas famílias, a superação era necessária. Gilda se separou quando João tinha 3 anos. Com a vida muito corrida, diz que tinha pouco tempo de entrar nas redes sociais, acompanhava fotos do perfil de Alessandra, curtia, comentava e a recíproca era verdadeira, até que um dia percebeu que alguém havia marcado o nome dela em uma publicação com o nome da Alessandra, mãe de Vitória.
Uma nova história
“Entrei na publicação e percebi que pediam orações para Alessandra. Tentei falar com ela e não consegui. Imediatamente procurei pelo esposo e o adicionei nas redes sociais para saber o que estava acontecendo. Alcir me contou que ela estava muito doente e que só por Deus para ela sobreviver. Fiquei muito triste, orei por minha amiga de luta, mas infelizmente, pouco tempo depois ela se foi”, disse.
Gilda falou que passou um filme na cabeça e então começou a pensar muito em como ficaria a Vitória, já que percebeu o pai da menina Alcir, muito abalado com tudo. E assim, começaram a conversar pelas redes sociais.
“No inicio apoiávamos um ao outro através de mensagens, ele em Santa Rosa de Viterbo e eu em Igarapava, até que resolvemos nos encontrar e conversar pessoalmente. Levamos as crianças. Eu levei o João e ele levou a Vitória. Foi incrível! João se agarrou ao Alcir desde o primeiro dia de encontro e a Vitória a mim. Não consigo explicar a magia daquele momento. João e Vitória, que já tinham estado juntos quando nasceram em um leito de hospital, se encontravam novamente 5 anos depois”, comentou.
“Nesse período ficamos muito juntos, vivemos intensamente um grande amor. Alcir é o grande amor da minha vida, ele me mostrou que é possível ser feliz. Éramos muito companheiros em tudo. Ele nunca me deixou fazer comida sozinha, em todos os afazeres ele estava presente a todo tempo. Sempre muito especial com todos os meus filhos que também o amavam muito. Deus me deu a oportunidade de entender que o amor existe”, falou.
Gilda e Alcir – o adeus…
A vida estava indo muito bem, todos os cuidados eram redobrados, pois a pandemia continuava levando pessoas, até que em 2021 a Covid bateu a porta da família e pegou a todos. Não havia vacina ainda e Alcir, apesar de, segundo Gilda, não ter nenhuma comordidade, não resistiu a Covid.
“Alcir era um homem forte, não tomava remédio nem pra dor de cabeça. Jamais imaginávamos que um dia ele seria mais um na lista dos mortos em consequência da Covid. Quando a gente via os números a gente lamentava, mas quando o Alcir se foi, nós entendemos o tamanho do estrago que essa doença fez. Na minha casa e na minha família, o sofrimento foi enorme. Todos amávamos demais o Alcir. Só estamos conformados pela fé de que tudo tem um propósito, porque acreditamos que Alcir está com Deus, e com certeza, em um lugar reservado aos melhores, olhando por nós”, disse emocionada.
Gilda e Alcir estavam juntos há quase 4 anos. Vitória, filha de Alcir chamava Gilda de tia, mas surpreendeu com um pedido, no dia seguinte a partida de seu pai.
“No dia seguinte que Alcir faleceu a Vitória chegou perto de mim e perguntou se poderia me chamar de mamãe. Eu levei um susto, mas ao mesmo tempo me veio um sentimento de amor muito forte. Percebi naquele momento que nossa história estava unida desde a maternidade, e claro que falei pra ela que ela podia me chamar de mamãe. Desde aquele dia, em nenhum momento ela me chamou de tia. Pra sempre, mamãe”, contou.
Providência e superação
Gilda diz que João e Vitória tem limitações, mas segue rumo a superação máxima, até nisso parece que existe uma providência.
“Vitória tem dificuldades nas pernas e João nos braços. Juntos eles fazem tudo, quando é preciso usar mãos e braços é a Vitória que age, quando é preciso usar os pés e as pernas, é o João. Até arte eles fazem juntos. São irmãos, são unidos, são meus filhos, diante de Deus. Apesar de tudo, apesar da falta que o Alcir faz, seguimos nossa jornada ate quando Deus permitir, meus 4 filhos e meu genro estão sempre comigo. Me sinto abençoada”, falou.
Desde que Alcir se foi, Gilda assumiu a responsabilidade de cuidar de Vitória como filha, e desde então, segundo essa mãe, Vitória vem melhorando a cada dia. Após várias consultas e acompanhamento dos médicos do HCRP, este ano tem sido de muito progresso e superação para Vitória, que em abril fez uma cirurgia nos pés e já seus passos com o andador.
Família e superação
“Minha família é meu tudo. Todos temos missões e a minha Deus tem ajudado a cumprir. Fui mãe aos 14 anos da minha primeira filha para que hoje ela pudesse ser uma mulher amorosa, que junto com meu genro e meu filho, me ajudam com muito amor a cuidar da Vitória e do João. Meu amor pelo Alcir é para a eternidade, ele amava e se preocupava demais com s Vitória, eu não poderia fazer diferente, porque nem me imagino longe dela. Vitória é minha filha do coração, sinto o mesmo amor incondicional que sinto pelos meus filhos que nasceram da minha barriga. Meu maior exemplo de superação”, concluiu.